quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Outubros

Amo somente um vazio
E me acalmo danando.
Ângela Rô Rô


Aquele dia eu era outra. Aquele dia eu estava outra, completamente outra. Tudo eram os outros. Mas nunca me senti tão aquele quanto hoje. A lucidez esmagadora se espalha sobre tudo, o eu e os outros. Hoje quando ia saindo encontrei com ele. Pensei, que droga que eu estou assim, tão saindo despropositadamente fazer nada numa noite, boba, qualquer. Mas de repente ele está aí e eu não quero que ele me veja assim, tão eu. Quero que ele me veja depois, mas não agora. Fuck me now, Love me later, como se diz por aí, eu até poderia falar, ainda que não seja o que eu quero que seja dito. Também daquela vez era assim. Mas não era assim nem aqui.


E isso e aquilo foi e eram coisas tão bobas frente ao resto. Eu nada seria sem o resto. Carros noites sons e estrelas, todas se esgoelando, cantando e explodindo de uma energia raio regada a Almodóvar, cigarro, por vezes um café (que nem tomar não tomo) e pesada sensação de cumplicidade e admiração que se sabe morta um dia. Entre o copo, a fumaça e o cansaço, uma boemia sóbria me leva ao encontro do vazio e do conforto, de um afago pelos olhos, num sorriso. E o vazio agora me desafia, como há tempos não fazia. Temos uma relação muito tranqüila, amigável, talvez até afetiva, eu diria, ele e eu. Mas por vezes nos desentendemos e ele inventa de se fazer presente.


Mas o que me torna assim é ver que quando ele começa com certas manias eu viro o mesmo eu. E mesmo se alguns anos tenham se passado e tudo seja absolutamente outro, é como se por qualquer motivo fugaz eu tivesse voltado/chegado ao mesmo lugar, mas que é outro lugar, mas aí é que está!


Sei que isso agora e aquele dia pressagiam algo. Um algo.


Naquele outubro eu parei de escrever. Neste eu recomeço.

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